Antes de tomar a importante decisão de se tornar mãe sem um parceiro, é essencial que você se faça algumas perguntas cruciais. Este processo de autoinvestigação pode fornecer a clareza necessária para seguir em frente de maneira segura e consciente.
Sou uma pessoa dependente de outra psicologicamente?
Essa pergunta é fundamental, talvez até mais importante do que qualquer outra, porque a base de toda a sustentação do seu projeto de maternidade independente está no psicológico. Ser uma pessoa segura de si, que aprecia sua própria companhia, que sabe curtir os momentos da vida sozinha e que não depende emocionalmente de outra pessoa para viver é crucial para "aguentar" as diversas fases do processo.
É importante também estar curada de feridas do passado e não projetar suas frustrações na chegada de um bebê. Nem todo mundo consegue isso. Há pessoas que não vivem bem sem o apoio emocional constante de outros; que não conseguem se sentir completas ou felizes sozinhas. Tudo bem ser assim, mas é provável que essas pessoas enfrentem grandes dificuldades em lidar com a maternidade independente.
Momentos de solidão e desafios inesperados podem surgir ao longo do caminho; nem tudo será um mar de rosas. Nesses casos, a terapia pode ser uma grande aliada. Ter um profissional ao seu lado para entender seu momento de vida, suas vontades, medos e receios é muito importante e pode ser de grande ajuda. Eu mesma busquei esse suporte e ele me auxiliou muito.
Tenho condições financeiras de arcar com todas as despesas antes do meu filho(a) nascer?"
Fazer acontecer" a maternidade independente envolve diversos custos (ou, como prefiro chamar, "investimentos") que não são baratos. Não se trata apenas de pagar um médico, mas também dos medicamentos, do procedimento clínico e da possibilidade de repetição de todo o processo.
Nas clínicas, você pode optar por uma opção de "one shot" (sim, eu ouvi essa expressão enquanto entrevistava uma das mulheres independentes para o meu livro), que pode custar até R$ 35 mil (em 2024). Há também o pacote que inclui três tentativas de inseminação artificial, usando seu óvulo e o sêmen de um doador (seja ele amigo, namorado, ex ou através de um banco de sêmen), que pode chegar a R$ 40/50 mil. Os valores variam muito, dependendo da região, do suporte oferecido, do tipo de tratamento, do banco de sêmen e do tipo de doador (nacional ou internacional). Não existe uma tabela padrão.
Embora existam formas de financiamento disponíveis em até 24 parcelas, nem sempre elas atendem às expectativas da paciente, especialmente quando se consideram os juros. Algumas mulheres já chegam ao médico com o sêmen comprado ou encomendado. Isso não era comum na minha época; tudo era feito pela clínica.
Tenho condições financeiras de arcar com todas as despesas depois que meu filho(a) nascer?
Você precisará ter um fôlego financeiro considerável para enfrentar essa tarefa. Significa entender que todas as despesas virão exclusivamente de você: casa, comida, apoio doméstico, creche/escola, materiais, remédios, férias, entre outros. Preparar o quarto do bebê também envolve custos significativos; as lojas hoje facilitam o processo e já fazem o projeto completo para você, incluindo todos os itens necessários (e até alguns que você nem imaginava precisar). Contudo, isso dificilmente sai por menos de R$ 10 mil, considerando berço, trocador, enfeites, papel de parede e todos os mimos que gostamos de proporcionar.
Não se esqueça do parto: é importante consultar o seu plano de saúde para verificar se todas as despesas estão cobertas ou se você precisará pagar a equipe médica separadamente, por exemplo. Durante a licença maternidade (algumas empresas aderiram ao programa de seis meses, mas a maioria ainda permanece com quatro), você terá um salário garantido no fim do mês para cobrir todas as despesas, o que traz um certo conforto, já que os gastos com o bebê nesse período são relativamente pequenos. Mesmo que você não amamente, as fórmulas de leite em pó não são tão caras. Até os seis meses, esse será praticamente o único alimento que você poderá oferecer ao seu bebê.
A partir daí, é importante avaliar se você precisará de uma babá (rede de apoio profissional), se pode contar com alguém da sua família ou se colocará o bebê em uma creche, que não sai por menos de R$ 2,500 mil por mês. Pense que, a partir de um ano e meio, se decidir matricular seu filho(a) na escola, isso incluirá, além das mensalidades, gastos com materiais, uniformes, taxas, transporte, entre outros.
Pense também na proteção do seu filho caso ocorra algum problema com você, o que inclui fazer um seguro de vida (leia o artigo "Seguro de vida: você precisa pensar nisso"). Atividades extracurriculares, como esportes, música e inglês, também devem ser levadas em consideração.
Estou apresentando aqui um cenário realista, no qual você terá que se virar sozinha. No entanto, é possível que, durante essa jornada, você encontre um parceiro, namorado, ou "namorido" que esteja disposto a compartilhar essas despesas ou participar de algumas delas. Vamos ser positivas mas sem deixar de ser realistas!
Resumindo, esses três tópicos são extremamente importantes para a tomada de decisão. Pode parecer uma abordagem pouco emocional, mas é uma reflexão necessária para que você siga em frente com mais tranquilidade e segurança. Além de tudo isso, ouça também seu coração e sua intuição; eles costumam dar ótimos sinais.
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