free-image1432261

Não sei como contar ao meu filho

por Cristina Oliveira.

Tem sido recorrente a busca desesperada de mães independentes por orientações referentes à forma e ao tempo correto de contar aos seus filhos sobre a origem diferenciada de suas fecundações e de sua constituição familiar.

Pode-se compreender tal aflição considerando que, no tempo atual, os modelos familiares se apresentam com significativa diversidade e que, sem o devido reconhecimento social, tais diferenças têm produzido vítimas de preconceito, bullying e exclusão.

As preocupações e inseguranças aqui apontadas quanto à abordagem do tema evidenciam a presença do preconceito ainda emaranhado em nossos valores morais, mesmo quando já se tenha sido capaz de violar o velho e conhecido padrão familiar com a atitude de gestar um filho em novo modelo. Não há como deixar de se enaltecer a preciosa e corajosa iniciativa para a composição dessas novas famílias, quebrando, assim, paradigmas arcaicos, que não sustentam mais a nossa modernidade.

Partindo dessa reflexão, considero que a maneira mais assertiva para a abordagem do tema é naturalizá-lo, ou seja, sentir-se livre para explicá-lo de forma simples e clara, assim como se explica qualquer outra curiosidade, venha ela da criança ou do adulto.

É absolutamente nociva qualquer forma de mentira, omissão ou manipulação dos fatos que circundam a vida da criança, pois a verdade um dia emerge e aí, sim, nascerá um grande problema. Ela se sentirá traída, enganada, desvalorizada, objeto de reprovação e de vergonha. Afinal, aquilo que se esconde é tido como “feio”, não aceito, reprovado.

As explicações devem se dar nos momentos em que acontecem as perguntas e devem conter meramente o que foi perguntado. A criança não será capaz de ouvir uma “palestra” sobre inseminação, banco de esperma ou produção independente. Ela precisa apenas saber aquilo que pergunta. À medida que ela cresce, as perguntas vão ganhando complexidade e, consequentemente, as respostas também.

É necessário considerar o repertório do vocabulário infantil e, a partir dele, fazer uso de analogias para favorecer a introdução de novas palavras e compreensão de novos conceitos.

Todos sabem com qual rapidez um feijão brota ao ser colocado num algodão embebido em água. Quando uma criança pergunta como se nasce, podemos fazer disso uma analogia para lhe dar a explicação. O algodão é como a barriga da mãe, a criança no início é como o feijão e, a partir da colocação do feijão no algodão, pode-se observar diariamente como ele vai se transformando em plantinha, crescendo até não caber mais no algodão, tornando-se grande e forte o suficiente para ir para a terra e então continuar crescendo. O bebê é semelhante: quando não cabe mais na barriga, já está grande e forte e vem para fora para continuar crescendo também.

Quando a criança pergunta de onde vem a semente, podemos buscar por uma fruta como o maracujá ou melancia e novamente fazer uso da analogia. Mostrar que a semente mora dentro da fruta para ficar protegida e alimentada, para que, quando colocada na terra, esteja forte e saudável para se tornar um novo pé de fruta, assim como o feijão que plantaram um dia. O pai, semelhante à fruta, também carrega as sementes de bebê dentro dele.

Ao precisar explicar sobre o banco de esperma, pode-se levar a criança numa feira livre e mostrar as bancas das mais diversas frutas e como carregam em si as diversas sementes. Apontar para a importância de todas, mas que, ao comprar, escolhemos a mais bonita, mais doce, mais nutritiva e a que mais gostamos. Mostrar que assim é um banco de esperma, um lugar bem arrumadinho, onde há uma diversidade de sementes de bebês, e que escolheu exatamente aquele que mais gostou.

A criança tem facilidade para entender o que é concreto. Por isto, a analogia com coisas que ela conhece e que possa experienciar favorece e simplifica o seu entendimento, preparando-a para a abstração do conceito que envolve a temática.

Como puderam perceber, pode-se lidar de maneira simples com o que é simples. A complexidade está em nosso julgamento e não nos fatos. A criança, por natureza, é simples e desprovida de qualquer pré-conceito.

Cristina Oliveira (e-mail: cristina@conscienciaemocional.com.br)

Gostou do conteúdo? Compartilhe!